Eu
sou aquele que os passados anos
Cantei
na minha lira maldizente
Torpezas
do Brasil, vícios e enganos.
E
bem que os descantei bastantemente,
Canto
segunda vez na mesma lira
O
mesmo assunto em plectro diferente.
Já
sinto que me inflama e que me inspira
Talia,
que anjo é da minha guarda
Dês
que Apolo mandou que me assistira.
Arda
Baiona e todo o mundo arda
Que
a quem de profissão falta à verdade
Nunca
a dominga das verdades tarda.
Nenhum
tempo excetua a cristandade
Ao
pobre pegureiro do Parnaso
Para
falar em sua liberdade.
A
narração há de igualar ao caso
E
se talvez acaso o não iguala
Não
tenho por poeta o que é Pegaso.
De
que pode servir calar quem cala?
Nunca
se há de falar o que se sente.
Gregório
de Matos
Seleção de Obras Poéticas, Gregório de Matos
Texto
proveniente de: Projecto Vercial - Literatura Portuguesa http://www.ipn.pt/opsis/litera/